O tempo passa e os
eventos vão nos preenchendo de um jeito ou do outro. Começa janeiro e no dia 19
eu já me “desfaço” de mais um ano. Ao contrário de muitas pessoas, eu acho o
dia de aniversário cada vez mais alegre e já não tenho aquele medo de que as
pessoas não se lembrem dele. A vida lembra, sempre lembra, todos os dias, todos
os momentos que cada dia é uma outra possibilidade de se desfazer do que foi e
de se maravilhar com o que está vindo. O dia de meu aniversário me faz lembrar
o primeiro dia que, ao inspirar pela primeira vez, eu me colocava neste planeta
para experimentar, compreender e despertar. Acho que foi por isso que sempre
tive tanta curiosidade em saber como tudo funciona fora e dentro de mim e qual
a ligação entre tudo e o porquê de tanta fascinação quando consigo ver lampejos
de mim mesma em momentos raros.
Já passei meu
aniversário em muitos lugares diferentes. Na praia de Mucogê, em Trancoso na
Bahia com minha amiga Meire; em casa com família; com amigos; com a notícia da
morte de Elis Regina; sozinha; em Londres com a querida Christine, em cuja casa
eu morei por um ano; em bares com amigos; só com o Ed no nosso terracinho
encantado; trabalhando num dia normal; nas montanhas; no hospital com meu pai;
na comunidade de Nazaré com bolos deliciosos da Paula e oferendas dos hóspedes
em minha porta.
Mas é nessa época que
aproveito também para me desfazer de coisas que não preciso mais, limpando e
desobstruindo gavetas externas e internas. E celebro cada detalhe que vai
aparecendo neste dia como um presente.
Olhando em uma das
gavetas encontrei todas as minhas agendas onde anoto as aulas que dou durante o
ano. Só faltava a primeira. Olhando uma a uma vou relembrando alunos que tive,
que ainda tenho, que pararam um tempo e retornaram. E sinto profundo
agradecimento a todos eles que tanto me ensinaram com relação à vida mesmo, de
forma tão carinhosa. Quantas histórias pude conhecer através deles e em quantos
momentos percebi que também vivia ou tinha vivido aquelas mesmas histórias.
Quanto de mim descobri através de todos eles! Bom, continuo descobrindo,
aprendendo e me divertindo.
Também nas agendas fui
recordando momentos importantes anotados ali, quando conheci o Ed, quando
compramos nosso apartamento, idas a hospitais, nossas viagens inesquecíveis,
aniversários de amigos (antes de facebook), quando dei aula em uma firma ou
outra, eleição de presidente e prefeito, primeiro dia de escola de meu
sobrinho, mais alunos, menos alunos, encontros com amigos em happy hour,
menopausa, shows em São Paulo, morte de meu pai, aulas de Yoga, cursos e mais
cursos, pintura de apartamento, visitas a Nazaré e amigos que moram por perto,
aposentadoria, aniversário de 90 anos de minha mãe, sobrinha neta que nasceu...
e por aí vai. E por aí vai continuar. As experiências são muitas e todas elas
causam um grande impacto interno.
Essas mesmas agendas e o
“desfazer de anos” me fizeram girar pelo tempo tão relativo que é passado e
está presente. Qual seria a sua idade se
você não soubesse quantos anos você tem? (Confúcio)
Tempo Rei! Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai as velhas formas do viver.
Ensinai-me oh Pai, o que
eu ainda não sei
(Gilberto Gil)