Até mesmo no mundo
corporativo essas perguntas são formuladas para se conseguir melhores
resultados. Se não soubermos responder essas perguntas sobre nós mesmos,
dificilmente conseguiremos aplicá-las nas diferentes áreas de nossas vidas.
Ouvindo o CD de Glória
Ariera (professora de Vedanta), de onde tiro alguns trechos, fui entendendo
como esses objetivos mudam com o tempo ou dependendo das experiências que vamos
tendo.
Num certo momento, e em
grande parte de nossa vida, nosso objetivo é a pela segurança. Buscamos então
uma casa, um emprego, uma situação onde possamos relaxar e nos sentirmos
seguros. Quando alcançamos isso, nosso objetivo é então a busca pelo prazer,
porque só conseguimos buscar o prazer quando estamos seguros.
E aí, pronto. Já me
sinto realizada, e não quero mais nada, certo? Algumas pessoas param por aí,
sim, e fica sendo esse o foco de suas vidas: a segurança e o prazer. E como
fazer para conseguir isso? Muitas vezes não há nem esse questionamento. Outras
vezes a resposta é: “Não importa, eu quero a segurança e o prazer e vou fazer o
meu máximo para conseguir isso sem pestanejar”.
Vemos hoje muito
claramente no mundo corporativo pessoas trabalhando mais de 8 horas por dia,
nos finais de semana, sem tempo sequer para se questionar sobre elas mesmas. E
no pouco tempo que resta fora do trabalho, elas ainda atendem a celulares e
respondem e-mails relacionados ao trabalho que não acaba nunca, pois mesmo se
entregando totalmente, nunca estão em dia com ele. O que gera uma grande
frustação. Mas isso não importa. O importante é ter segurança e prazer. E está
tudo muito bem, muito bom. Lutamos hoje em dia por segurança e prazer e muitas
pessoas de fato conseguem esse objetivo. Que bom. É mesmo muito importante se
sentir segura e sentir prazer. Isso nos dá um relaxamento interno para viver
uma vida mais confortável.
Mas chega um momento que
começamos a questionar: “Como é que estou conquistando essa segurança e esse
prazer? Os meios que uso para chegar lá são adequados? Estou respeitando as
outras pessoas? Estou me arrependendo do que estou fazendo? É adequado e
transparente a maneira como estou conquistando essa segurança e prazer? Consigo
isso sem pisar no outro, sem passar por cima de meus próprios valores? Consigo
fazer as coisas com clareza, sem confusão?
É esse questionamento
que nos leva ao amadurecimento emocional que é, também, um dos jargões mais
utilizados no mundo corporativo. Às vezes podemos ver nas qualificações
solicitadas para uma vaga esse item: maturidade emocional. Mas afinal o que
seria essa maturidade? Maturidade emocional é a capacidade de segurar certos
desejos em nome de algo maior do que o comando sobre mim mesma. E é a coerência
na minha própria vida, no sentido de ter claro os valores universais. É essa
coerência que vou usar quando analisar a minha vida, minhas ações e também a
vida do outro. A maturidade emocional me capacita a olhar a situação de um modo
abrangente onde eu faço parte. Se eu faço parte, qualquer coisa que acontece no
todo me atinge. A alegria do grupo do qual faço parte, seja familiar, de
trabalho, de amigos, de bairro, da cidade, do país me atinge. A dor do grupo
também dói em mim.
E quando não conseguimos
deixar de pensar nisso, de avaliar e questionar, é porque nossa maturidade
emocional está se estabelecendo. Eu posso fazer coisas para me distrair deste
desconforto de ter que pensar sobre isso, mas quando estiver comigo mesma,
essas questões vão aparecer. E novas perguntas começam a surgir: estou agindo
certo? Como posso agir melhor? Estou, através de minha necessidade de manter a
segurança e o prazer, afetando a vida do outro de maneira negativa?
A minha busca única a
qualquer preço por segurança e prazer começa a ser questionada e parece não ser
mais suficiente para mim. E assim começo a pensar em outras direções. O mais
importante agora é buscar uma forma coerente e transparente de viver para que
eu me sinta confortável comigo mesma e que eu possa ter um relaxamento e
assinar todos os meus atos. E aí sim estarei cumprindo meu papel e contribuindo
para a sociedade. Nosso olhar então sai do próprio umbigo e se amplia para a
sociedade. Assim, pensamos como podemos contribuir para que o grupo possa viver
em harmonia, pois quando esse grupo está em paz, eu, que faço parte desse
grupo, também estou em paz. Com certeza, o que esperamos das pessoas, elas
também esperam de nós – a verdade, a compaixão, a sinceridade, a não violência
etc.
Quando atingimos essa
maturidade, temos que deixar de fazer coisas em que não acreditamos mais, para
haver uma transformação realmente profunda. Deixamos o que não nos serve mais,
abrindo espaços para novas crenças sobre mim mesma, sobre o outro e sobre o
universo. O processo não é rápido. Temos de abandonar velhos conceitos, velhos
hábitos e criar outros, e isso leva um tempinho. Por isso a necessidade de se
questionar e de se conhecer usando, se preciso for, as ferramentas que temos
hoje em dia como terapia, Yoga, coaching, grupos de estudos, conversas
teraupêuticas, Satsangas e até mesmo certas religiões. Tudo isso são mapas que
nos indicam um lugar um pouco mais alto da montanha. Podemos escolher qualquer
um desses mapas ou tentar desenhar nosso próprio mapa.
O importante é saber que
mudamos algo em nossas vidas não pelo “faça isso, não faça aquilo”. Não é no
nível de uma ação que mudamos, mas sim no entendimento de que uma maneira mais
sábia de fazer gera uma expansão. Então, quando a gente vê que algo é inútil,
deixamos de lado. Respeitar as leis universais gera mais ganho e quando eu
entendo isso, eu me modifico. É inútil dizer “não fale mentira, diga somente a
verdade”.
Entender o que eu perco
quando não falo a verdade é o ponto da mudança. A perda é que criamos duas
pessoas dentro de nós, uma que pensa e outra que age diferente do que você
pensou. Isso vai esgarçando sua identidade, você se perde de você mesmo e vai
se tornando uma outra pessoa não confiável para os outros e para você mesma. Se
eu sou coerente comigo mesmo no modo de pensar e no modo de agir, vou tendo uma
valorização de mim mesma e, assim, acontece um relaxamento dessa coerência,
dessa visão de quem eu sou. Não existe ganho maior do que o auto-respeito, a
valorização de você mesma. Então a mudança só é sólida quando ela acontece a
partir de um entendimento daquilo que tem valor e daquilo que não tem valor. E
aí eu abandono o que não tem valor.
Assim, não tem nada de
errado em trabalhar para segurança e prazer. Eu quero isso e então eu vou
atrás. Mas com essa expansão de saber que não sou um só no universo, mas que
pertenço a ele, percebo que o meu desejo maior, mais do que possuir coisas, o
que eu realmente desejo é estar confortável comigo mesmo. Eu desejo a paz. A
paz que eu já sou.