Dentro de mim existe um lugar onde vivo inteiramente só
e é lá que se renovam as nascentes que nunca secam.
P.Buch

4 de agosto de 2013

Soltar

Andar de domingo de manhã na Lagoa do Taquaral é um momento tão agradável que dispensa qualquer raciocínio interpretativo. É simplesmente agradável e ponto. Como diz meu poeta favorito, Fernando Pessoa, na roupagem de Alberto Caeiro: 

"O mundo não se fez para pensarmos nele
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Pensar é estar doente dos olhos.
Pensar em nada é ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada.   É viver intimamente."  

 Mas hoje andando por lá vi uma paisagem diferente. As folhas caíam das árvores lentamente se balançando e colorindo o chão. Parecia um outono europeu quente. E eu andando e pensando em eventos desafiadores de minha vida atual. Pensava enquanto caminhava em ritmo acelerado e quanto mais acelerava, mais os pensamentos vinham e me davam uma sensação de limitação.

Estava consciente dessa sensação e não sabia como me desfazer dela. Tentei pensar em outras coisas, mas os outros sentimentos teimavam em esquentar minha cabeça. Que droga, estava cansada daquilo e não sabia o que fazer para parar. Acelerei ainda mais meus passos. E as folhas das árvores se soltando, largando-se simplesmente. Parei, fotografei, abri os braços para ser banhada por elas, respirei. A árvore não fazia nada para se livrar das folhas. Elas simplesmente caíam num ritmo silencioso e de paz. A árvore simplesmente estava vivendo o que ela tinha para viver, recebendo os nutrientes da terra e do sol e se permitindo novas folhas, novas cores. Ela não ficava focando e se questionando porque é que as outras folhas estavam caindo. Ela simplesmente existia e se deixava existir. Era tudo tão natural que fosse assim.
 
 
Assim, por alguns momentos ali parada, pude ver a lição que ela estava me dando. Não adiantava nenhuma força minha para largar o que não tinha mais vida nos meus pensamentos e sentimentos. Eu não precisava fazer nenhum esforço, somente permitir que novos pensamentos mais luminosos chegassem. Respirei fundo. Por um segundo a sensação de limitação desapareceu. Que profundos são esses momentos em que o medo desaparece, a negatividade desaparece, a dor física desaparece e então nos damos conta de que somos pertencentes a todo esse universo que a todo tempo se interage com nós mesmos.

 
Depois encontrei minha amiga Eliana que estava correndo e ela me disse: “Vamos, vamos...” e eu:  “Hum, acho que não consigo correr...”   E ela: “Corre um pouco e anda um pouco e assim você vai conseguindo correr mais. Tchau tchau, bom te ver....” E lá fui eu pensando que, na verdade, podia sim fazer isso. Que a limitação são só nossos pensamentos mesmo. Respirei, corri um pouco, andei um pouco e foi muito bom.


 
E há alguns dias, minha amiga Cristina me deu uma oferenda muito peculiar. É uma pequena boneca maia, com não mais que 5 cm de altura, feita à mão, vestida com trajes típicos, que se chama “Worry People”, nome dado pelos próprios maias. Junto com a boneca, vem um cartão explicando que, segundo a lenda, quando os maias tinham problemas, contavam para as “Worry People”. Então, à noite, eles colocavam-na debaixo do travesseiro e, quando acordavam, as “Worry People” tinham levados todos problemas embora.
 
 
 
 
Então, muita coisa a aprender com as "Worry People", as folhas e os pensamentos que temos que simplesmente que largar, soltar.

4 comentários:

  1. Como é bom viver em paz consigo mesma! Viver é simples mas sempre estamos complicando tudo!

    Silvana

    ResponderExcluir
  2. Zezé, fiquei com uma sensação de flutuação. Parece que estive lá com você. Estava vendo tudo pelos seus olhos. Eu também amo a estação outoniça... das árvores... e dos seres humanos. O pensamento fica mais solto e o coração assume o comando. Parece que muitos de meus problemas foram embora, levados por você, minha querida "Worry People". É lindo de viver. Um beijo. Mário Frigéri

    ResponderExcluir
  3. Bem de acordo com a frase inicial do P.Buch em seu Blog ...
    J.P.

    ResponderExcluir
  4. Adorei. Obrigada!

    ResponderExcluir